Agora o tema é impotência, considerando homens que não sofrem de nenhuma disfunção fisiológica e nenhum distúrbio psiquiátrico, ou seja, eu e outros marmanjos que se encontram facilmente por aí.
Também não me interessam fatores apontados como causas de impotência, como o tal do estresse, pois eles se incluem como efeitos (não causas!) da impotência que vou descrever aqui. Muito menos aquela listinha de coisas brochantes dentro do manual para mulheres. Meu foco é aquilo que depende apenas da autonomia masculina, sem remédios, sem mudanças externas.
Que impotência é essa?
Imagine um homem em perfeitas condições que sofre de ejaculação precoce, gozando nos primeiros minutos de penetração ou boquete bem feito (não aquele que a mulher faz tomando cuidado para não pirar demais), e desenvolve o padrão de sempre partir para o sexo oral enquanto se prepara para uma “segunda”, na qual aí sim vai conseguir segurar por mais tempo – com menos potência.
Visualize outro que frequentemente não tem libido alguma. E outro que tem tesão, mas muitas vezes não consegue uma boa ereção. E outro que até consegue, mas não é capaz de sustentá-la de modo adequado ao ritmo espontânea da transa, gerando interrupções desconfortáveis.
Inclua mais um homem nessa imagem. Seu problema não é brochar, não é ejaculação precoce, não é ausência de libido ou potência. Ele faz tudo certo, mas talvez sofra desse outro tipo de impotência. De fato, a impotência sexual é raríssima se comparada com a impotência masculina dentro de uma relação e na vida, muito mais abundante.
O que já não estava em pé antes?
Cada vez mais as mulheres usam o sexo para se sentir amadas, já que às vezes é o único momento em que o homem para e olha com desejo, admira, toca sua mulher com vontade. O raro momento em que o homem fica minimamente presente e disponível, em que rola uma massagem,palavras sacanas, respiração profunda, conversas mais relaxadas.
Por outro lado, não é nada incomum o marido desenvolver aversão pela mulher em seus momentos de chatice e confusão, preferindo gozar sem preocupação diante da tela do computador a superar uma série de conflitos para chegar ao sexo. Em vez de abrir o quarto e enfrentar o monstro até que ele entregue aquela mulher sorridente e sensual de volta, ele fica horas enrolando na Internet, liga para uma garota de programa ou sai para beber e descarregar a tensão.
Quase ninguém fala dessa incapacidade de estar presente sem a necessidade do sexo ou dessa impotência diante dos caminhos tortuosos que culminam em uma relação profunda e intensa. Sem referências, o homem prefere a facilidade do orgasmo fast food ao cultivo mais demorado, agrícola, orgânico da coisa.
Sem essa potência, o homem nunca levanta, sobe, estabiliza, endurece antes do sexo.
As brochadas sutis de um homem
Você consegue ver a vida de pernas abertas quando sua mulher lista 71 reclamações e pede a separação? Segue andando a la Indiana Jones sobre pontes que ninguém mais vê? Tem a manha de avançar sobre sua parceira com dois pés e duas mãos sem nada atrás hesitando (”Será que eu não consigo uma melhor? Será que vai dar certo?”)? Todo dia, junto com o primeiro gole de água, toma a pílula vermelha ou a pílula azul para não brochar em todas essas situações?
Em um sentido amplo, a impotência masculina surge de uma falta de habilidade em lidar com o feminino, com o caos, com tudo o que se move livremente. O homem brocha quando a energia que lhe impacta externamente supera sua autonomia, como uma avalanche ou um atropelamento. Ou melhor, quando ele tem a experiência de ser atropelado, a sensação de afundar, assim como seu tesão é experimentado como uma liberdade de atravessar paredes.
Tal impacto pode ser dolorido ou prazeroso. Podemos ser arrastados pelas falas emocionais de uma mulher, por uma confusão na empresa, excesso de bebida ou pela ansiedade em ejacular no meio de um boquete. Não importa, somos arrastados, atropelados, engolfados. Os movimentos externos e impulsos internos decidem qual será nossa experiência, qual será nossa reação. Perdemos autonomia. Caímos. Ficamos impotentes.
Cura e tratamento da impotência masculina
A primeira coisa para conseguir levantar o pau antes do sexo é observar como nosso sofrimento é sinônimo de passividade e como nos alegramos quando agimos, afinal nossa potência vem da capacidade de foder, penetrar, avançar sobre as coisas.
Precisamos observar o que acontece quando sentimos tesão de existir, propósito, senso de humor, peito cheio, visão nítida. Qual a textura dessa eletricidade que nos move? De onde ela vem? Como pode ser sustentada mesmo quando as configurações externas se alternam?
Quando um homem chega nesse ponto, é provável que encontre um professor de meditação e que comece a aprender a estabilizar essa eletricidade de modo autônomo, algo que naturalmente melhora suas relações, sua ação na vida e, claro, na cama. Eis o caminho mais direto para utilizar essa impotência como trampolim para transformações muito maiores do que apenas superar a impotência.
Para quem deseja soluções paliativas, há alguns meios hábeis, que se resumem a tentar emular uma ação potente e ativar diretamente a energia em alguns momentos. O resultado é instável, claro. Ninguém disse que seria fácil.
By Não1Não2